sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O genocídio armênio

Neste que é o último post da semana, pretendo analisar brevemente o assunto que me fez reativar o blog, em conversa com o parceiro do www.xadrezverbal.com, meu bom amigo Filipe Figueiredo. Em postagem sobre a história turca no inicio do século XX, meu amigo acabou ficando sem espaço para tratar de um tema bastante espinhoso, possivelmente o mais controverso da história turca daquele período: o genocídio armênio. Abaixo, link de vídeo em inglês sobre o assunto (infelizmente não achei nada de qualidade em português):



Neste, que é considerado o primeiro Crime de Genocídio em Massa (MAC - sigla em inglês) do século XX, também o segundo maior da primeira metade do século passado, superado apenas pelo holocausto judaico à partir do final da década de 1930, o Governo do agonizante Império Turco-Otomano, em uma época que coincidiu com a Segunda Guerra Mundial, praticou a sistemática deportação e eliminação de armênios vivendo dentro de suas fronteiras, sob a alegação de traição à pátria - muitos dos armênios recusavam-se a fazer parte do exército nacional do Império que os dominava desde o século XV.

Apesar de ser chamado "o grande doente do concerto europeu", o Império Turco-Otomano ainda era militarmente muito responsável, como atesta a vitória de um certo Mustafa Kemal sobre a frota britânica (com enorme contingente australiano e neozelandês) em Gallipoli, episódio que quase custou a carreira política de Winston Churchill. Depois da Guerra, os mesmos Jovens Turcos, liderados pelo mesmo Kemal (conhecido como Atatürk, "o pai dos turcos"), derrotaram gregos e outros vizinhos e, de uma posição de força, negociaram novo tratado de paz com a Tríplice Entente, em substituição ao Tratado de Sèvres, o Tratado de Lausanne, assinado já em 1923, quase cinco anos, portanto, após o fim da Guerra.

É importante notar que havia um precedente: em 1909, por volta de vinte mil armênios já haviam sido massacrados pelo governo otomano. No entanto, esses números empalidecem comparados ao do genocídio, iniciado em 1915, com a prisão e deportação ou assassinato de inúmeros líderes armênios em Istambul, então capital do Império. À partir daí até 1919, por volta de um milhão de armênios morreria, assassinados de diversas formas, desde o afogamento e marchas forçadas até o uso de armas químicas e biológicas, como gases tóxicos e a inoculação de febre tifoide. Além disso, houve o fato de diversos outros terem sido forçados a trabalhar até a exaustão, em 25 campos de concentração espalhados pelo Império.



Até aí, até mesmo o último sultão do Império Turco-Otomano reconhecia a responsabilidade turca, especialmente do Ministro do Interior, Mehmet Talat, pelo genocídio armênio. Isso devia fazer parte dos julgamentos de Trabzon, após a Guerra, mas acabou sendo apagado pela tomada do poder pelos Jovens Turcos que, obviamente, não iriam produzir acusações e provas contra si mesmos quanto ao assunto. Cabe ressaltar que os países da Entente reconheciam o genocídio no Tratado de Sèvres, mas misteriosamente esqueceram-no no Tratado de Lausanne, bem menos rigoroso com o República Turca, sucessora do Império Turco-Otomano, liderada por Atatürk. Também os soviéticos, que herdaram o território armênio e tiveram em Atatürk um de seus primeiros aliados, fizeram vista grossa para com o massacre.

Hoje, mesmo sendo um país plural e democrático, a Turquia não reconhece o genocídio e quem o faz, além de correr risco de ser processado criminalmente, é visto como pária. Para os turcos, os armênios eram traidores de guerra, que sofreram a punição merecida. Muitos países, especialmente ocidentais, reconhecem o genocídio armênio, mas parece pouco para o sofrimento do povo, que até hoje não se recuperou cultural e demograficamente de um massacre ocorrido já há quase cem anos.



Para encerrar, uma frase do perpetuador do maior genocídio do século passado. Vários estudiosos afirmam que em 1939, pouco antes de invadir a Polônia e dar vazão ao massacre de judeus, eslavos e ciganos, Hitler teria se saído com a seguinte pérola:
Afinal quem fala hoje do extermínio dos armênios?

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