quinta-feira, 14 de junho de 2012

Muito longe da Terra Prometida

   O Oriente Médio é, com a possível exceção dos Balcãs, a região mais instável do hemisfério norte. Berço da escrita, da agricultura e da vida urbana, trata-se de um ponto de encontro de diversas civilizações. Além dos semitas (árabes e hebraicos), vivem lá atualmente também turcos, persas (vamos falar mais sobre eles), curdos, armênios, georgianos e azeris. Gregos, romanos, ingleses, franceses e vários outros povos viveram na região durante um bom tempo, colaborando para o cadinho de culturas que gera, evidentemente, alguns conflitos.

   O maior risco de conflito interestatal no momento é entre Israel e Irã, uma pena, pois persas e judeus têm uma história de convivência pacífica e amizade de 3.000 anos. O Irã é o terceiro país do Oriente Médio em número de judeus e, surpreendentemente, os judeus persas, apesar de não poderem se comunicar com Israel (restrição que conta para qualquer iraniano, cabe ressaltar), não parecem querer deixar o país, que conta com essa comunidade há três milênios.

   Os persas colaboraram para que os judeus escapassem da Babilônia há 2.800 anos e, mais recentemente, na década de 1970, colaboraram politicamente, quando nada por serem, a exceção da Turquia, os dois únicos países não-árabes da região. O Mossad e o serviço secreto do Xá, chegaram, inclusive, a fazer exercícios conjuntos. A relação de gratidão que os islâmicos guardam com o judaísmo, primeira grande religião monoteísta, também é clara e deveria aproximar os povos.

   Com a Revolução Islâmica de 1979, as relações estremeceram. Os aiatolás não reconheciam o Estado de Israel e denunciavam a violência contra os palestinos, que são em sua maioria xiitas, como os persas. Nunca foram particularmente contra os judeus, admirados como os primeiros monoteístas, mas contra o Estado de Israel. Porém, nem mesmo Khomeini poderia esperar o que viria cerca de 25 anos mais tarde.

   Quando o atual presidente, Mahmoud Ahmadinejad, assumiu o poder, as relações se degradaram ainda mais. Populista e messiânico, Ahmadinejad prega a destruição do Estado de Israel, que ele considera sionista, nega o Holocausto durante o regime nazista alemão e, por fim, dá seguimento a um vigoroso programa nuclear. Segundo autoridades iranianas, o programa visa à criação de energia nuclear para fins pacíficos, mas, até mesmo por atos falhos dessas mesmas autoridades, sabe-se que é provável o desenvolvimento de armas nucleares, que provavelmente seriam usadas contra Israel.

  O Irã é signatário de tratados de não proliferação nuclear, ao contrário de Israel, que opta pela "opacidade nuclear" e que muito provavelmente já possui por volta de 200 ogivas. No entanto, Israel é uma democracia e o componente radical na política israelense é menor do que na iraniana. O risco na posse de Israel de armas nucleares é, assim, muito menor do que o iraniano. Mesmo assim, o Irã insiste que, se Israel tem armas nucleares, deveria-lhe ser permitido possui-las também.

   As posições adotadas pelas partes na Guerra Civil Síria também são esclarecedoras. Se Israel mostra certa relutância quanto à saída de Assad, por estar legalmente em guerra com a Síria e pelo temor de mais uma teocracia islâmica na região, o Irã apoia o ditador por ele ser xiita e por ser a Síria um dos poucos países em que pode confiar na região. Apesar de não ser tão ditatorial quanto a Síria, há também o temor de que ocorram distúrbios em Teerã, razoavelmente incólume na onda de revoltas no mundo islâmico.

   Um ataque israelense ou iraniano no curto prazo parece improvável. Apesar de ter forte poderio militar, Israel sabe que sua população é muito menor que a iraniana e que o território persa não é dos mais agradáveis do mundo para se combater. Ataques centralizados a centrais nucleares podem gerar uma escalada gigantesca na violência. Os iranianos, por sua vez, não pretendem tomar o lugar de potência agressora, atraindo contra si não apenas israelenses e americanos, mas também, possivelmente, seus defensores russos e chineses. Como se pode ver, o Oriente Médio parece estar longe de ser a Terra Prometida.