sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Montenegro: História Tumultuada

Origens até a Conquista Otomana

A região onde fica Montenegro, os Balcãs, é conhecida pelas inúmeras confusões lá acontecidas. E a história do pequeno país não destoa disso. A região foi parte do Império Romano e também do Império Bizantino, antes da chegada dos eslavos, ainda durante o primeiro milênio da era cristã. Esse povo se dividiu basicamente entre os eslavos do norte, tchecos, poloneses, eslovacos, rutenos, ucranianos, bielorrussos e russos e os eslavos do sul, sérvios, croatas, bósnios, eslovenos, montenegrinos e, dependendo do ponto de vista macedônios (não confundir com a região grega da Macedônia) e búlgaros, que são etnicamente túrquicos, mas linguisticamente eslavos.

Inicialmente, o território hoje pertencente a Montenegro continha três reinos; um deles, o Reino de Zeta, ficou mais forte entre o décimo e o décimo terceiro séculos de nossa era e tornou-se dominante na região. Muitos venezianos, que dominavam o comércio no Mar Adriático, chamavam o reino de Montenegro, traduzido internamente como Crna Gora e nome do país até hoje. Até o final do século XIV, o reino de Zeta tinha uma relação de vassalagem em relação ao Reino da Sérvia, ou seja, não era independente no sentido que concebemos hoje. Então, alguns governantes sérvios e montenegrinos se revezaram no comando de Zeta até o final do século seguinte, quando foi a última Monarquia a cair perante os otomanos, que a anexaram a um sanjak que correspondia, aproximadamente, à região de Sérvia, Montenegro, Albânia e Macedônia hoje.


Do Século XVII à Primeira Guerra Mundial

Desde o início, os montenegrinos eram um dos povos mais livres dentro do Império Otomano, contando com privilégios religiosos e tributários consideráveis. No entanto, nem isso parou o povo, ortodoxo, guerreiro e artístico, em sua luta contra o dominador estrangeiro. Durante todo o século XVII, os montenegrinos provocaram tumultos na região, finalmente derrotando os turcos definitivamente na chamada Grande Guerra Turca, no final desse século.
À partir daí, a região passou a ser dominada como uma Teocracia, pelos príncipes-bispos Petrovic-Njegos, com a unificação do país, apesar de tentativas de dominação venezianas e austríacas, vindo no século XIX. O carinho de Hobsbawm pelo país remete a essa época, na qual um pequeno reino montanhês de pastores, guerreiros, poetas, bandoleiros e bispos (muitas vezes um habitante era várias dessas coisas ao mesmo tempo) resistiram a tentativas de invasão de grandes impérios.

Nicolau I conseguiu, em 1878, através das Guerras Turco-Montenegrinas, aumentar consideravelmente o reino para regiões hoje pertencentes a outros países. Depois disso, passou a ter relações diplomáticas com o Império Turco-Otomano, que, finalmente, depois de dois séculos, reconhecera sua independência. Além de Nicolau I, outros heróis montenegrinos da época ficaram conhecidos no lendário balcânico, especialmente os que tiveram participação na Batalha de Grahovac, em 1858. Um nome importante é o De Knjaz Danilo, que inclusive emprestou seu nome para a primeira constituição do Principado, datada de 1855.

A situação era estável, até o ano de 1905, quando algumas forças políticas passaram a perseguir uma reunião com a Sérvia, novamente um Reino com força nos Balcãs, em contrariedade ao partido monarquista dominante. Em 1910, o país tornaria-se um reino, com vida curta. Apesar de vencer, junto com a Sérvia, as Duas Guerras Balcânicas (em 1912 e 1913), os montenegrinos seriam varridos pelo Império Austro-Húngaro ainda no início da Primeira Guerra Mundial. A libertação veio em 1918, quando decidiu-se pela reunião de Sérvia e Montenegro e um só reino.


O Século XX e a Independência

O reino formado inicialmente apenas por Sérvia e Montenegro logo passou a contar também com Croácia, Bósnia e Eslovênia, sendo oficialmente denominado Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos. O oblast de Cetnje, espécie de condado, correspondia mais ou menos ao país atual. Depois, a região do país passou a fazer parte do banato de Zeta, junto com partes atualmente pertencentes a outros países. O Rei Alexandre I, neto de Nicolau, dominou o país no período entre guerras. Informalmente, entretanto, o país já era conhecido como Iugoslávia

Durante a Segunda Guerra, as forças de Mussolini, influenciadas pela rainha Elena, esposa de Vittorio Emanuele III e nascida em Montenegro, formaram um reino fantoche na região do país, tendo a Itália anexado a região litorânea de Budva. Mesmo após a saída da Itália da Guerra, em 1943, a Alemanha dominou a região com mão de ferro, só sendo derrotada e finalmente expulsa pelo Marechal Josip Broz, codinome Tito e seus partisans de toda a Iugoslávia nas proximidades do natal de 1944.

Tito retomou a Iugoslávia e fez dela uma República Federal Socialista. A capital de Montenegro, Podgorica, foi renomeada como Titogrado, a cidade de Tito, em homenagem ao líder. Importante notar que Milovan Djilas, famoso partisan, filósofo e escritor, era nacional de Montenegro.

Após a guerra, a infraestrutura iugoslava foi refeita, com consideráveis ganhos para Montenegro, muito bem representado no Governo devido ao enorme número de partisans lá nascidos. Apesar de ser a república menos povoada da federação, as benesses foram consideráveis para o país que, com o fim da Iugoslávia "grande" nos anos de 1990, continuou formando a Iugoslávia pequena ao lado da Sérvia.

Durante as Guerras Bósnia e Croata, os montenegrinos juntaram-se aos sérvios, procurando ganhos territoriais, especialmente a região de Dubrovnik, no litoral croata. Alguns oficiais montenegrinos seriam punidos anos mais tarde.

Em 1996, o governante Milo Djukanovic rompeu laços com a Sérvia de Slobodan Milosevic e, simbolicamente, a parte montenegrina da Iugoslávia passou a adotar o marco alemão como moeda. Não houve conflitos militares, no entanto, como nos casos dos outros países. O país passou a chamar-se Sérvia e Montenegro em 2002, ano anterior à adoção do euro por Montenegro, apesar de não ser parte da União Europeia. Em 2006, com pequena maioria em votação, foi tomada a decisão de separar-se totalmente da Sérvia, o que aconteceu em 03 de junho, com declaração do Parlamento.

Depois da Independência, o país já foi aceito na ONU e no Conselho da Europa, sendo também candidato à União Europeia (deve ser o próximo país do bloco) e OTAN.
 

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