domingo, 22 de dezembro de 2013

Marrocos: a porta para a África

Com o post de hoje, inicio uma série que contará, além de Marrocos, que escolhi por ter sediado o Mundial de Clubes da Fifa deste ano, com os 32 classificados para a Copa do Mundo a ser disputada no Brasil do ano que vem. O blogueiro tentará abordar curiosidades, informações futebolísticas e geopolíticas de cada país, sendo que, obviamente, há acesso mais fácil a dados de países grandes e próximos culturalmente do que em relação a outros menores e mais distantes. Espero que vocês gostem.

Como primeiro país, uma espécie de "bônus", escolhi o Marrocos, que sediou, até ontem, o Mundial de Clubes da Fifa, vencido pelo FC Bayern de Munique e que teve como vice-campeão e grande surpresa o atual campeão nacional marroquino, o Raja Casablanca, já conhecido dos brasileiros pelo trabalho que deu para o Corinthians no Mundial de 2000.






As partidas do mundial aconteceram em Marrakech e Agadir, ambas no Centro-Sul do país. No entanto, é o norte, onde ficam a capital Rabat, Tanger, Rabat, Fes e, claro, Casablanca, que concentra a maior parte da população e das grandes cidades do país. Os maiores clubes também estão na região, que, não por acaso, funciona como uma espécie de porta de entrada (ou saída) da Europa. Explica-se: o país é separado da Espanha pelo estreito de Gibraltar que, em seu ponto mais estreito, tem apenas 13 quilômetros. A Espanha mantém, inclusive, dois exclaves no Marrocos: Ceuta e Melilla, lembranças dos tempos coloniais e de explorações ultramarinas.

Nesse assunto, também é interessante notar que Marrocos foi um dos países africanos com menor tempo como colônia europeia. Aliás, a disputa diplomática para ver quem ficaria com Marrocos, entre Alemanha e França, no início do século XX, foi uma das motivações para a Primeira Guerra Mundial. Sua proximidade estratégica a Europa sempre foi um fator importante para a riqueza do país, que passou a ser muito mais visitado desde sua independência, em meados do Século XX.





Como era de se esperar em um grande país de influência islâmica, o país é rico em bazares labirínticos nos quais se encontra todo tipo de produto. Um dos mais conhecidos fica em Fes. Casablanca e Rabat são cidades mais novas e modernas, com traços misturando os estilos europeu e islâmico, criando cenários de tirar o fôlego. Para os mais aventureiros, há ainda o deserto do Saara e a cadeia de Montanhas Atlas, no Leste do país, próxima à fronteira com a Argélia.



Vamos agora a algumas curiosidades sobre o país:

- A culinária é bem variada, contando com influências islâmica, judaica e cristã. O cuscus foi criado lá, assim como o alfajor;

- É um dos poucos países do mundo no qual o Rei ainda é chefe de Governo e isso provoca confusões com alguma frequência;

- Uma pessoa é considerada analfabeta se não escrever e ler em árabe e francês. O francês pode ser substituído pelo inglês;

- Foi o primeiro país africano a receber uma corrida de Fórmula 1, em 1958;

- Era uma presença frequente em Copas do Mundo de futebol. Mas, em decadência, não vai à maior competição esportiva do futebol mundial desde 1998;

- A Universidade mais antiga do mundo, a de Kairouan, fica em Marrocos. Fundada no século IX d.C., é, portanto, pelo menos 200 anos mais velha que a de Bolonha, primeira universidade europeia;

- A religião oficial é o Islamismo e por isso é difícil encontrar quem crie cães no pais, já que, religiosamente, o cão é um animal impuro. Azar o deles;




- O filme Casablanca, uma das obras primas do século XX, passa-se na cidade marroquina homônima. Curiosamente, entretanto, nenhum dos personagens mais relevantes é marroquino.

- A novela "O Clone", da Rede Globo, tem algumas sequências filmadas em Marrocos;

- A bebida oficial do país é o chá de hortelã. E não é muito fácil encontrar bebidas alcoólicas nas medinas (centro das cidades).





sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Singela homenagem a Nelson Mandela

A postagem de hoje será diferente. Ao invés de falar sobre curiosidades ou esportes de alguma nação, falarei sobre um homem de todas as nações, um dos maiores do século XX, Nelson Rolihlahla Mandela, que faleceu ontem aos 95 anos em sua natal e querida África do Sul. A morte já era esperada há algum tempo, houve bastante boatos, especialmente neste ano, mas mesmo assim fiquei triste, com um nó na garganta, como não ficava pela morte de uma pessoa pessoalmente desconhecida desde a morte de Ayrton Senna, em 1994.


Evitarei usar a Wikipedia para compor a postagem, pois no último ano li muito sobre a África do Sul no século XX e, por consequência, li muito também sobre o Madiba, como era chamado carinhosamente, remetendo a seu nome tribal.

Mandela nasceu na região do Cabo Oriental, no Centro-Leste da África do Sul, em 18 de julho de 1918 no seio de uma família nobre da etnia thembu, umas das diversas que compõem o arco-íris sul-africano e, diga-se de passagem, dificilmente considerada uma das três ou quatro principais. Teve uma educação excelente, especialmente levando-se em conta que, naqueles pequenos anos de quasi Independência de seu país, os negros, que já sofriam sérias restrições sob os britânicos, passaram a ser ainda mais oprimidos. Estudou Direito, expressava-se muito bem em vários idiomas de seu país (inclusive o africaner, dialeto do holandês usado pelos brancos e mulatos claros de origem europeia continental - curiosamente, a maioria NÃO era de holandeses, mas de belgas, franceses huguenotes e alemães renanos).

Eram tempos difíceis e, mesmo educado e não tão jovem, Mandela, filiado ao Partido Nacional Africano, passou a se rebelar contra a dominação e, mais especialmente, a opressão branca em seu país. Longe de ser um santo, Mandela adotou estratégias bem parecidas às hoje usada pelos black blocks e, no inicio dos anos 1960, acabou preso pelo Governo do Apartheid.






Ficou preso durante 30 anos na Ilha Robben, a poucos quilômetros da costa da Cidade do Cabo. De um violento ódio contra os brancos, passou a adotar uma postura de mais tolerância. Organizava campeonatos de rugby e futebol entre os detentos, fazia gracinhas com os  carcereiros de quem ficara mais íntimo, pensava muito no poema vitoriano Invictus. Muita gente no mundo inteiro, tão variada quanto Fidel Castro, Muammar Gadaffi, Jimmy Carter, Helmut Kohl e a Rainha Beatrix, da Holanda, fizeram pedidos por sua libertação durante esse período.

O homem que decidiu, finalmente, libertar Mandela, foi Frederick de Clerk, o último líder do Partido Nacionalista, que perpetrava o apartheid na África do Sul. Dono de grande habilidade e visão política- e não de compaixão propriamente dita - promoveu as reformas que acabariam com o Apartheid, que ele mesmo sabia ser inviável. Se tornou parceiro importante de Mandela nos anos seguintes, nas eleições de 1994, as primeiras com participação negra em muitos anos, inclusive.

Libertado, Mandela fez um périplo pelo mundo, cujo ponto alto foi Barcelona, durante os Jogos Olímpicos de 1992. Data desse ano minha primeira lembrança de Mandela, que sempre me cativou com seu sorriso, jeito de homem simples e correto. Abaixo, discurso de Mandela falando sobre o papel dos Jogos Olímpicos na reconciliação, em 2000:


Já como presidente, em 1994, passou a trabalhar incansavelmente pela maior integração do povo sul-africano. Usou o esporte como grande instrumento, ao promover a Copa do Mundo de Rugby de 1995, realizada  no país e vencida pelos Springboks, a seleção sul-africana, que então contava apenas com um jogador negro e também a Copa Africana de Nações, igualmente vencida pelos sul-africanos - neste caso, uma seleção com maioria negra. A forma como usou o rugby como fator de integração nacional é explicada no filme Invictus, de Clint Eastwood, cujo trailler segue abaixo (se tiver curiosidade de ver o filme inteiro, as cenas de partidas são muito bem feitas).


Mandela teve dificuldades óbvias durante seu governo, que durou até 1999, para promover a reconciliação entre brancos e negros em um país com um sério problema de  saúde pública (mais ou menos um quinto da população adulta é portadora do vírus HIV), desigual e injusto. Não conseguiu resolver todos os problemas, mesmo contando com ajuda de gente muito boa, como Desmond Tutu, Frederick de Clerck e Thabo Mbeki, que o sucederia como presidente. Não perdeu, entretanto, o respeito e admiração de quase todo sul-africano e de muita gente ao redor do mundo. Cabe ressaltar que sua postura conciliatória também rendeu-lhe inimigos, especialmente da etnia zulu na África do Sul e do movimento supremacista negro no mundo inteiro. Mandela lutou contra a dominação branca, mas também contra a dominação negra.

Na década de 2000, Mandela tornou-se um palestrante de muito sucesso ao redor do mundo e trabalhou pela melhora de seu país. Foi importante para levar a Copa do Mundo de 2010 à África, ainda que sua idade avançada e a morte de uma neta não tenham permitido a ele acompanhar a competição como planejara e gostaria. Sua última aparição pública de mais impacto foi na final do torneio, em julho de 2010.



Fica aqui nossa homenagem a um ser humano que buscou conciliação e não vingança. Que amava seu país, mas também seu continente e seu planeta. E, principalmente, que respeitava não só seu próprio povo, mas todos os povos. Descanse em paz, Madiba, o senhor foi um vencedor.



segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Istambul - Constantinopla - Bizâncio

Como eu já antecipei no post sobre a Turquia, este aqui será sobre sua maior e mais conhecida cidade, Istambul. Trata-se também do maior destino turístico do país, contando, inclusive, com o maior aeroporto do país e sendo ligada a quase todos os pontos do território turco com grande regularidade. Pois bem, vamos aos fatos:

- Istambul é uma das maiores conurbações tanto da Europa, quanto da Ásia, com 13 milhões de pessoas. Isso é mais do que 122 países do planeta.

- É a única cidade a estar geograficamente na Europa e na Ásia.As duas partes são separadas pelo Estreito de Bósforo, que liga o Mar Mediterrânero ao Mar Negro. Esse curso de água também é conhecido como o Chifre de Ouro.


- Ficou famosa como Constantinopla, com o nome dado em homenagem ao Imperador romano Constantino, que escolheu a localização devido às sete colinas presentes no limite da cidade, o que justificaria seu apelido de "segunda Roma". No entanto, já havia uma cidade lá, Bizâncio, de origem grega. Abaixo foto de uma parte de Bizâncio, hoje localizada dentro do palácio Topkapi.






- Como Constantinopla, sua segunda "encarnação", foi capital do Império Romano do Oriente por mais de mil anos. Após sua conquista pelos turcos-otomanos, em 1453, ainda foi capital do Império Turco-Otomano por mais de quatrocentos anos, até a Primeira Guerra Mundial. Abaixo, mapa medieval da localidade.




- Serviu de inspiração para diversos escritores, desde os locais, como Orhan Pahmuk, até estrangeiros como Ernest Hemingway e Agatha Christie, que escreveu sua obra prima Assassinato no Expresso do Oriente em um hotel da cidade.

- Seu metrô é o terceiro mais antigo do mundo. Um trecho foi construido já em 1875, noventa e nove anos antes do de São Paulo, por exemplo.

- Apesar do Bósforo parecer colaborar para um clima mais quente, neva bastante em Istambul durante o inverno.

- A Mesquita Azul é considerada uma das mais belas do mundo, com sua construção tendo sido ordenada pelo Sultão Mehmet para rivalizar com a beleza da Hagia Sofia (ou Santa Sofia), então uma catedral ortodoxa. Abaixo, a bela mesquita:





- Falando em Hagia Sofia, provavelmente a construção mais famosa da cidade, ela já serviu como igreja, catedral, mesquita e hoje é um museu, dos mais visitados da Turquia. Fica fácil entender por quê a construção é tão famosa vendo a imagem abaixo:






- O Grande Bazar ainda é um ponto de encontro importante para a cidade. Lá pode-se comprar de tudo, petiscar, tomar chá ou raki (uma bebida que lembra o ouzo grego e o arak libanês, anisada). Ainda é o maior bazar fechado do mundo e cenário de vários filmes, inclusive Skyfall, de 2012.

- O "Dia da Criança" na Turquia é feriado por direito próprio, no dia 23 de abril. É o único país que tem um feriado para homenagear as crianças.

- O chá, bebida nacional dos turcos, foi introduzido recentemente. Antes as pessoas tomavam o café turco, popularmente conhecido por muitos brasileiros como chafé, por ser muito diluído.

- Ao contrário do que se imagina, a culinária turca não se resume a kebabs e comidas parecidas com a árabe. Um passeio pela cidade tira essa ideia errônea da cabeça de todos. Há muita riqueza na culinária turca, reflexo de sua cultura multiétnica e milenar.

- Como é de conhecimento do raro leitor, o blogueiro adora futebol. Istambul é a capital turca do esporte e, além de contar com os três maiores clubes do país (Galatasaray, Fenerbahçe e Besiktas), abriga um dos maiores estádios da Europa, no qual o Liverpool ganhou a lendária final da Liga dos Campeões de 2005 em cima do Milan.





- Por fim, um vídeo sobre o futebol turco, no qual podemos ver diversas imagens da bela Istambul.