terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Sobre Brasis e Holandas

Recentemente, li dois artigos de blogueiros que não conhecia. Uma é uma holandesa que mora aqui no Brasil. Outro de um brasileiro que vive em Amsterdã. Apesar de tratarem de assuntos bem distintos, os escritos guardam semelhanças: trazem uma análise um tanto quanto rasa dos povos dos países aonde vivem.

Começando pelo texto da moça, ela critica abertamente a falta de amor que o brasileiro demonstra por seu país (e eu concordo totalmente com a crítica). No entanto, traz alguns exemplos no mínimo questionáveis. Diz que o brasileiro critica muito o país (cita o mantra "Imagine na Copa") e que, na maioria das vezes o faz de boca cheia. Para mim, o grande problema aí está em não fazermos muita coisa para mudar o panorama, porque o que é criticado, quase sempre, é digno de críticas até mais severas. O problema é reclamar da corrupção e ser parte dela, reclamar da insegurança, da educação deficitária, da saúde às moscas e continuar elegendo os mesmos picaretas de sempre para usar nossos impostos (mais altos que os do seu país, Senhorita Batava) mais para encher seus bolsos do que para qualquer outra coisa.

De pouco adianta termos quatro operadoras de telefonia celular se nenhuma oferece um serviço decente. A única no seu país, e eu passei tempo suficiente lá para descobrir isso, é excelente, muito menos cara e trabalha de forma muito mais inteligente que as quatro que operam por aqui. Mesmo sem ter opção de mudar de operadora, preferia ser cliente dela a qualquer uma das que trabalham na minha cidade.

Nosso povo é, sim, menos frio que a maioria dos europeus (holandeses, italianos e balcânicos sempre me pareceram tão acolhedores quanto) e costuma receber bem os turistas, algo que compartilhamos com os holandeses, segundo o outro blogueiro. Mas é o mesmo povo que mata alguns turistas por ano e se mata em números maiores do que os de muitas guerras (porcentual ou absolutamente).  Assim como todas as pessoas do mundo, as que vivem aqui tem qualidades e defeitos. E ninguém me proibe de reclamar dos defeitos e elogiar as qualidades. Inclusive, boa parte dos defeitos que temos, incluindo os piores, a passividade frente à corrupção e ao desmando, vêm de longe, de nossos colonizadores Portugueses. Não acho que o Brasil seria tão melhor como colônia holandesa e a Indonésia exemplifica o que eu digo, mas acho que talvez a mentalidade fosse diferente.

Estamos no país aonde o sujeito cria uma igreja para conseguir mais dinheiro e menos impostos e consegue seguidores, visto que nem sempre vimos muitos objetivos e utopias dignas de crédito. A Holanda se libertou da Espanha, em boa parte, por esgotamento frente a administrações corruptas e verborragia messiânica (na época, Católica Romana). Coincidência?

Como bem coloca o blogueiro do segundo texto, a Holanda tem seus defeitos: ciclistas malucos, clima mais chuvoso e frio do que a maior parte do Brasil, povo menos amistoso (ou mais desconfiado). O Brasil é um país maior, temos mais gente. Obviamente, temos inclusive números de gente boa e talentosa maiores que os da Holanda. O maior problema é que a mentalidade deles faz com que quem for bom lá floresça, como as belas tulipas que colhem em terras tomadas do Mar do Norte. Aqui, por enquanto, para cada bela flor que floresce, temos 10, 15 que murcham. E isso é uma baita diferença a favor dos neerlandeses.