quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O Brasil nas Copas: vilões nacionais e estrangeiros - parte 4

2006 - França


E, como em três das últimas cinco eliminações, o Brasil caiu para a França. Ao contrário da imprensa e da maioria dos meus amigos, não entrei no oba-oba instaurado para a Copa. O Brasil tinha um bom time, mas Adriano e Ronaldo já haviam entrado em derrocada de suas carreiras, Ronaldinho chegaria esgotado e Kaká ainda não tinha o necessário para levar o time nas costas. Robinho era um bom reserva (e só isso), Roberto Carlos e Cafú só tinham idade pra jogar como laterais em campeonatos fracos (vinham de más  temporadas por Real Madrid e Milan) e outros times muito bons, como Itália, França e Alemanha, que viriam a ser os três primeiros ao final, nem eram muito cotados, dentro da soberba tupiniquim.

O Brasil venceu com alguma dificuldade seus jogos antes de enfrentar a França, que vinha de uma péssima primeira fase, redimida por uma bela vitória sobre a Espanha, que jogava um futebol que prenunciava o time que ganhou todas as grandes competições desde aquela Copa (Copa das Confederações não é grande competição, apesar de ter sido bem legal ver o estilo chatíssimo da Espanha ser mal-sucedido nela duas vezes seguidas). Zidane estava em seu canto do cisne, com aposentadoria anunciada para logo depois da competição. E contra o Brasil, como já fora contra a Espanha e seria contra Portugal, o carequinha pied noir foi perfeito. Não fez dois gols como em 1998, mas orquestrou o meio-de-campo francês, deu a assistência para Henry na polêmica jogada do gol da França, quando Roberto Carlos arrumava o meião perto do atacante francês, chapelou Ronaldo, fez o Diabo.

Para muita gente a eliminação veio como um choque. Para mim, foi normal, só um pouco mais triste por ter sido contra a odiada seleção francesa, que, diga-se de passagem, derrotava o Brasil pela terceira vez seguida em jogos oficiais. A culpa da eliminação foi mais de Zidane do que de qualquer brasileiro. Parreira entrou no oba-oba, mas era realmente difícil isso não acontecer. Então, fiquemos apenas com Zidane. Sim, Roberto Carlos, sua barra foi livrada mais uma vez, como em 1998.

Sim, ele de novo

2010 - Holanda

Mais uma Copa na qual o Brasil era favorito, mas havia um porém: a imprensa estava contra Dunga, péssimo no trato com o Quarto Poder. As convocações de jogadores apenas razoáveis como Grafite, Michel Bastos (lembra dele?), Gilberto (além de razoável, velho para um lateral) e Julio Batista, enquanto Ganso e Neymar comiam a bola no Santos e Ronaldinho ainda seria útil, só agravaram os conflitos, que tiveram como ponto alto o treinador, claramente destemperado, chamando Alex Escobar, do Sportv, de cagalhão.

Outro destemperado, aliás, era o bem razoável segundo volante Felipe Melo, que seria um grande lutador de MMA, caso optasse por outro esporte. Seu "duelo" com Pepe, no último jogo da primeira fase, contra os quinas, foi inesquecível pra quem curte um futebol porrada. De resto, o Brasil sofreu muito pra vencer a ridiculamente fraca Coreia do Norte e fez uma boa partida contra a Costa do Marfim, liderado por Luis Fabiano e Elano, sendo que o último se contundiu e ficou fora do restante do Campeonato. Um time que tem Luis Fabiano e Elano como destaques, como o leitor sabe, está fodido e mal pago, mas ainda teríamos algumas ilusões após a batalha campal contra Portugal e uma vitória fácil sobre o ultra-ofensivo Chile, velho freguês.

A adversária nas quartas-de-final seria a Holanda, um time mais ou menos do nível do Brasileiro (pior na defesa, mas melhor no meio. Ataques mais ou menos equivalentes). E o jogo começou bem para o Brasil, com um baita lançamento de Felipe Melo para Robinho abrir o marcador. O Brasil foi MUITO melhor que a Holanda no primeiro tempo, mas aí...

Aí, no começo do segundo tempo, numa bola cruzada por Sneijder (na minha opinião o melhor jogador da temporada europeia em 2009-10, diga-se) Júlio César, companheiro do pequeno holandês na Internazionale saiu de forma grotesca, se chocando com Felipe Melo e deixando a bola passar. O Brasil foi dominado, como dominara no primeiro tempo e, pouco antes do meio da segunda etapa, cometeu a proeza de tomar um gol de cabeça do mesmo Sneijder, que não é bom cabeceador e mede apenas 1,70 metro. Foi o primeiro gol de cabeça do jogador de 26 anos em sua carreira, para se ter uma ideia do bizarro. Nesse momento, Dunga olha para o banco e vê Grafite, Nilmar, Julio Baptista. Ou seja, chance zero de conseguir mudar a história do jogo. Felipe Melo, em mais um momento de sinalização de dificuldades reais de convívio em sociedade, deu um carrinho criminoso em Robben e deixou a seleção com um a menos, como cereja no bolo. Sneijder teve méritos, é claro, e deve constar do post, mas o festival de asneiras cometido por Dunga (que taticamente era até razoável) em sua convocação o credencia como o maior vilão da Copa de 2010, vinte anos após ser injustiçado em 1990. Afinal, quem convocou Felipe Melo, Gilberto, Michel Bastos, Julio Baptista e Nilmar foi ele. Muito provavelmente por birra com a imprensa.

Dunga, com alguma roupa ridícula desenhada por sua rebenta

Wesley Sneijder

Assim termina a série de postagens sobre o Brasil. No próximo, começarei a falar dos outros 31 países na Copa, sendo a primeira nação a Croácia. Até lá!

sábado, 25 de janeiro de 2014

O Brasil nas Copas: vilões nacionais e estrangeiros - parte 3

Nesta última parte dos posts sobre as derrotas brasileiras em Copas do Mundo, irei analisar as eliminações de 90 e 98. De alguma forma, eu me lembro de ambas, além das de 2006 e 2010, guardadas para o último post, o que facilitará muito meu serviço.



1990 - Argentina

Poucas vezes o Brasil foi a uma competição tão desacreditado quanto em 1990. Haviam bons jogadores, como os Ricardos (Gomes e Rocha) na defesa, Careca, Bebeto, Renato e Romário no ataque (desses, apenas Careca seria titular, ao lado de Müller), além dos laterais Jorginho e Branco. O time fez uma primeira fase protocolar, batendo Escócia, Costa Rica e Suécia por placares magros. Nas oitavas de final, entretanto, pegaria a campeã do mundo Argentina, que, mesmo com Maradona em grande forma, havia penado nos primeiros rounds.

O Brasil surpreendeu a todos, jogando sua melhor partida no mundial, mas perdendo muitos gols, especialmente com Müller. O atacante mais fraco do elenco ser titular foi apenas uma de inúmeras cagadas de Lazaroni, provavelmente o técnico mais medíocre que já vi na seleção. Ainda assim, a Argentina parecia acuada e o gol da vitória poderia sair a qualquer momento. Mas eles tinham Diego Armando Maradona, melhor do mundo à época e também o melhor que esse blogueiro viu jogar. Em um lance genial, Dieguito passou por 5 jogadores brasileiros, que não tentaram sequer fazer uma falta (Alemão, seu companheiro de Napoli, foi o mais medroso dos cinco) e, quando parecia que finalmente Ricardo Gomes tiraria-lhe a bola, passou com perfeição para o paquito Caniggia, que se livrou de Taffarel e eliminou o Brasil.

As razões da eliminação foram a falta de tato da CBF, especialmente quanto a premiações e escolha do (péssimo) treinador e, também, o fato de a Argentina ter o então melhor do mundo ao seu lado. Muita gente fala da água batizada dada a Branco pelo banco argentino, mas isso não passa de desculpinha. Fico, pois, com Lazaroni, por ser um péssimo gestor e escalador e Maradona, por, em um lance, ter sido Maradona.

Lazaroni

Maradona


1998 - França

O time do Brasil na Copa de 1998 era, no papel, o melhor que eu já havia visto jogar. Mesmo os zagueiros, o estabanado Junior Baiano e o já veterano Aldair, tinham suas qualidades. Os dois melhores jogadores do mundo em 1997, Ronaldo e Roberto Carlos, atuavam bem também pela seleção. Dunga era um excelente líder dentro de campo e tinha a companhia do grande Cesar Sampaio na volância. Cafú era o lateral direito e Rivaldo e Leonardo os meias. Por fim, Bebeto, que não jogava lá um grande futebol em clubes havia tempos, ainda atuava muito bem pela seleção. E tinha Edmundo na reserva.

É bem verdade que, pouco antes da competição, tivemos o corte de Romário, que fora o grande responsável pela vitória em 1994 e ainda tinha muita lenha para queimar, especialmente ao lado do fenômeno, então pesando surpreendentes 75 kilos. Seu corte, quando era possível mantê-lo no grupo, foi a primeira de várias besteiras feitas por Zagallo e o pé de iceberg Zico, seu assistente técnico. Mas o time continuava bom e, especialmente depois de um chocolate no razoável time de Marrocos, parecíamos bem encaminhados.

Parecíamos. Na terceira partida da primeira fase, no dia da morte do cantor sertanejo Leandro, o Brasil, já classificado, enfrentaria a Noruega, que precisava ganhar e havia aplicado uma goleada na seleção canarinho pouco mais de um ano antes. O jogo foi surpreendentemente bom e já na segunda metade do segundo tempo, Denílson (naquela que foi provavelmente sua atuação mais objetiva na seleção), cruzou bem para Bebeto fazer um a zero. Aí começou o show de Junior Baiano, muito aplaudido por Tore Andre Flo,  atacante norueguês que marcou o primeiro gol e sofreu o pênalti do segundo tento dos nórdicos. O Brasil passara em primeiro para as oitavas, mas perdera um jogo: importante notar que o Brasil nunca venceu uma Copa tendo perdido alguma partida.

O jogo das oitavas voltou a trazer muitas esperanças. Contra um dos melhores ataques do mundo, o do Chile (no Winning Eleven 3 era O MELHOR) a defesa Brasileira jogou bem e com dois gols de Ronaldo e dois do grande Sampaio, o Brasil venceu por 4-1. Ainda por cima, fugiu da asa-negra nigeriana, que também tomou de 4 a 1, só que da Dinamarca. O time dinamarquês não era fantástico, mas tinha um gênio no meio de campo (Michael Laudrup), bons atacantes (Brian Laudrup, Jorgenssen e Sand) e um goleiro fantástico (Schmeichel). Em um jogo no qual Roberto Carlos teve uma das piores atuações que eu já vi em um jogador de alto nível, Rivaldo salvou a seleção, marcando dois gols e jogando o fino. Os dinamarqueses caíram de cabeça erguida e, agora, a amarelinha enfretaria a seleção que jogava o melhor futebol da Copa, a Holanda.

Depois de uma primeira fase apenas razoável, a Holanda venceu um partidaço contra a Iugoslávia e outro contra a Argentina - com direito a uma pintura de Bergkamp - e era, fácil, o time que mais metia medo na torcida brasileira entre os ainda vivos (havia também França e Croácia). Para piorar, Cafú, um oásis de regularidade numa seleção muito inconstante, estava suspenso e em seu lugar jogaria aquele que era provavelmente o pior dos 22 jogadores convocados: Zé Carlos. Em uma partida muito boa e cheia de alternativas, o Brasil acabou por vencer nos pênaltis, com Taffarel pegando duas cobranças batavas. A final seria contra os donos da casa, que haviam suado muito para passar por Paraguai, Itália e Croácia, seleções piores que as adversárias dos brasileiros.

Pouco antes da final, entretanto, Ronaldo teve um ataque epilético ou coisa que o valha, convulsionou e deixou todo mundo na concentração em polvorosa: poderíamos perder para sempre um dos melhores da história. A notícia logo chegou à imprensa, acompanhada da escalação de Edmundo - na melhor temporada de sua carreira - ao lado de Bebeto no ataque. Pouco antes da partida, Zagallo voltou atrás e escalou o baleado Ronaldo, melhor jogador do time, e, principalmente, um dos maiores contratados da Nike, patrocinadora da seleção. O resultado, todos sabemos: um baile da França, que venceu por 3 a 0 mesmo tendo um ataque ridículo, formado por Guivarc'h e Dugarry, e levou o título. Zidane marcou duas vezes de cabeça (algo não muito comum em sua gloriosa carreira) e Petit botou a última pá de terra no túmulo brasileiro. Túmulo esse cavado por Zagallo e Zico, dois únicos seres humanos que aparecem pelo lado brasileiro duas vezes nesta humilde lista. Zidane ainda aparecerá mais uma vez, mas duvido muito que ele seja humano.

Zinedine Zidane
Zagallo, em 1974  

Zico, ainda como jogador


domingo, 12 de janeiro de 2014

O Brasil nas Copas: vilões nacionais e estrangeiros - parte 2

Olá, pessoal! Na postagem de hoje, falarei um pouco sobre um período complicado para o futebol brasileiro, internacionalmente falando: as décadas de 1970 e 1980. Nas Copas disputadas nessa época, o Brasil sempre levou bons times (um, o de 1982, excelente) às competições, mas perdeu para outros ainda melhores ou em não soube se encontrar quando enfrentou situações adversas. Vamos, pois, às Copas de 1974, 1978, 1982 e 1986.


1974 - Holanda

Em 1974, o Brasil foi à Copa como favorito, favoritismo este baseado no fato de ter sagrado-se tricampeão mundial na Copa do México, em 1970, com um time que era, certamente, um dos melhores de todos os tempos. Em 1974, entretanto, a história seria bem diferente.

Começava uma era na qual o preparo físico passava a fazer mais diferença no futebol mundial. Jogadores que jogavam em várias posições passaram a ser considerados essenciais, muito úteis a qualquer selecionado. Para completar, Pelé, um precursor da excelência física no futebol, resolveu não ir à Alemanha Ocidental disputar o Mundial. Ainda assim, o Brasil tinha uma boa equipe, com vários remanescentes de 1970, casos de Jairzinho, Rivelino e Leão, este último substituindo com extrema competência o inseguro Félix e tornando-se um dos maiores goleiros brasileiros de todos os tempos, mesmo sem título mundial como titular.

Após uma primeira fase medíocre, na qual empatou contra Iugoslávia e Escócia e bateu o Zaire (atual República Democrática do Congo), o Brasil caiu em um grupo complicado na segunda fase de grupos, com Argentina, Alemanha Oriental e Holanda. Os holandeses eram a sensação da Copa, com um time baseado no Ajax tricampeão europeu entre 1971 e 1973 e no qual vários jogadores jogavam com competência em várias posições do campo. Após vitórias magras e de grande responsabilidade de Rivelino contra argentinos e alemães orientais, o Brasil foi pegar a Holanda em Dortmund precisando da vitória. Pouco antes da partida, Zagallo, treinador da seleção fez piada com os holandeses, dizendo que o Brasil faria um suco da laranja mecânica.

Não foi bem assim. Em uma partida extremamente violenta, na qual o bom zagueiro palmeirense Luis Pereira fez uma das faltas mais absurdas da história das Copas sobre Johann Neeskens, a Holanda venceu por 2 a 0 com gols do próprio Neeskens e de seu grande craque, Johann Cruyff, jogador polivalente e que parecia ter o dom da ubiquidade. O velho lobo, então apenas um quarentão, teve que engolir os holandeses e seu futebol total. Depois, na disputa do terceiro lugar, o Brasil perderia também para a boa equipe da Polônia, comandada por Deyna, Lato e Szarmach.

Abaixo, fotos de Cruyff, Zagallo e Lato.

Johann Cruyff
Mario Jorge Lobo Zagallo
Grzegorz Lato 


1978 - Argentina

Em 1978, a Copa voltava à América do Sul pela primeira vez após longos 16 anos e seria disputada na então especialmente conturbada Argentina, que sofria com uma brutalíssima ditadura. A seleção brasileira tinha em Rivelino seu único remanescente do time titular de 1970 e alguns jovens craques, casos de Cerezo, Zico e Roberto Dinamite; assim como em 1974, fez uma primeira fase apenas razoável, empatando com Espanha e Suécia e derrotando a Áustria.

Na segunda fase, o time deslanchou, batendo com segurança o Peru e a Polônia e empatando uma partida duríssima com a dona da casa, na cidade de Rosário, em peleja entre as duas anteriormente citadas. Na última rodada, entretanto, a Argentina jogou depois do Brasil, contra o Peru, sabendo que precisaria vencer por 4 gols de diferença para ir à final. Venceu por seis gols, em uma partida pra lá de suspeita, na qual a pressão para uma vitória argentina por parte dos militares portenhos era enorme. Para se ter uma ideia, o goleiro peruano, Ramón Quiroga, nasceu na Argentina e teve péssima atuação. Seria a primeira Copa na qual a seleção não perderia nenhum jogo e não levaria o título.




1982 - Itália

Em uma das Copas com maior nível técnico de todos os tempos, o Brasil, comandado por Telê Santana, era favorito. Disputada sob o forte calor espanhol, a competição contava com timaços de Brasil, França, Polônia, URSS, Alemanha Ocidental e outros bons times, casos de Bélgica, Argentina e Inglaterra. Só para falar do Brasil, a seleção tinha gente do quilate de Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo, Júnior e Oscar na ponta dos cascos. Careca foi cortado faltando pouco para o início do certame, mas foi substituído por Serginho, maior artilheiro da história do São Paulo.

Na primeira fase, o Brasil bateu a URSS em jogo duríssimo, depois goleou a Escócia e a Nova Zelândia. Pouca gente temeu o grupo das quartas de final, com Argentina e Itália, o que foi corroborado pelo chocolate de 3 a 1 aplicado nos hermanos, com direito a expulsão de Maradona, estreando em Copas e já um dos melhores do mundo à época.

A Itália vinha numa campanha cambaleante, com três empates na primeira fase (em um grupo duríssimo, diga-se de passagem, com Polônia, Camarões - primeira grande seleção africana em uma Copa - e o decadente, mas ainda razoável Peru). Conseguira vencer a Argentina em um belo jogo, mas pouca gente apostaria que a azzura poderia derrotar o Brasil.

Em um dos melhores jogos da história das Copas, o Brasil foi vítima de seu grande ímpeto ofensivo. E também de um atacante desacreditado chamado Paolo Rossi. Suspenso por dois anos do futebol por envolvimento em um dos primeiros escândalos futebolísticos ligado a loterias na Itália (e eles são bem comuns), Rossi voltou pouco antes da Copa. Apesar de ter feito uma boa Copa em 1978, poucos acreditavam nele. Pois o nativo de Arezzo marcou os três gols da Itália na vitória por 3 a 2 - um empate classificaria o Brasil para a semifinal - em uma grande performance. Em um dos gols, Cerezo fez um passe perigoso que caiu nos pés do atacante italiano, mas eleger o volante como vilão seria um exagero. O grande vilão foi mesmo Rossi.



1986 - França

A seleção de 1986 era basicamente a de 1982, quatro anos mais velha e com alguns enxertos, dos quais o único que trouxe real melhora foi Careca, um centroavante com mais recursos que o bom Serginho. O Brasil fez uma primeira fase competente, com três vitórias contra times bem razoáveis, a Espanha, a Irlanda do Norte e a Argélia.

Nas oitavas de final, os comandados de Telê acabaram com o bom time polonês, numa goleada impiedosa por 4 a 0, com grande atuação do lateral-direito Josimar, que só havia sido convocado devido ao corte de Leandro Favela, por indisciplina.

As quartas de final seriam contra o outro time de futebol ofensivo e extremamente plástico da Copa anterior: a França de Michel Platini. Os franceses vieram para a Copa com a confiança em alta, pois eram campeões europeus e tinham em Platini um craque, em um nível no qual apenas Zico e Sócrates, naquele time brasileiro, já haviam chegado um dia - ambos não estavam em bons momentos e tinham problemas físicos em 1986.

No estádio Jalisco, segundo maior daquela segunda Copa do México (e que trazia ótimas recordações de 1970 aos brasileiros), o Brasil surpreendeu muita gente dominando os franceses e marcando o primeiro gol com Careca, em uma jogada extremamente bem trabalhada. Platini conseguiu empatar algum tempo depois, mas as melhores chances foram do Brasil, que contava com uma atuação fenomenal do lateral-esquerdo Branco. O gaúcho de Bagé sofreu pênalti no final do segundo tempo, após aproveitar bom lançamento de Zico, que acabara de entrar no jogo. O Galinho de Quintino, provavelmente o maior craque brasileiro a não ter vencido uma Copa do Mundo, telegrafou a cobrança, facilmente defendida pelo ágil Joël Bats. O goleiro francês se consagraria de vez na disputa de pênaltis, defendendo a cobrança do Doutor  Sócrates. Platini, que completava 31 anos no dia da partida, também perdeu sua cobrança, mas isso não fez diferença pois Júlio César chutaria um foguete na trave e a cobrança de Amoros entraria, após a bola bater na trave e nas costas do goleiro Carlos. Talvez seja a eliminação mais complicada de eleger um vilão, entre todas do Brasil em Copas. Platini jogou muito, Zico e Sócrates foram muito displicentes em suas cobranças perdidas, Bats soube aproveitar-se disso. Fiquemos com Zico, que assumiu uma responsabilidade enorme para ser displicente, sendo que o próprio Branco poderia bater o pênalti.

Zico

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O Brasil nas Copas: vilões nacionais e estrangeiros 1

Começando o projeto Copa do Mundo, vamos aos países do grupo A, começando pela seleção da casa, o Brasil. Por ser o país no qual nasci e, teoricamente, o que sei mais coisas, falarei, afinal, sobre um dos assuntos que mais gosto: futebol. Mais especificamente sobre as eliminações do Brasil nas Copas do Mundo de 1930, 1934, 1938, 1954, 1966, 1974, 1978, 1982, 1986, 1990, 2006 e 2010, além das derrotas para Uruguai em 1950 e França em 1998, que custaram o título, mas fizeram da seleção canarinho vice-campeã mundial. Serão 03 postagens sobre o assunto, então, mãos à obra.


1930 - Iugoslávia

Na primeira Copa do Mundo, disputada no Uruguai, o Brasil foi derrotado pela seleção iugoslava. É interessante notar que alguns times não aceitaram convocações de seus jogadores e que isso deixou a seleção bem mais fraca. Assim, os vilões seriam os clubes que não liberaram os jogadores.


1934 - Espanha

Em 1934, na primeira Copa disputada na Europa, o Brasil foi derrotado pela forte seleção espanhola, por 3 a 1, ainda nas oitavas de final. O time já tinha alguns jogadores que seriam importantes na Copa do Mundo seguinte. O Brasil jogou bem e o grande vilão de nossa eliminação foi o goleiro Ricardo Zamora, um dos maiores da história, que até pênalti pegou no jogo.

Ricardo Zamora

1938 - Itália

A seleção de 1938 foi, provavelmente, a primeira proveniente do Brasil a ter forte impacto Mundial. Com Leônidas da Silva em estado de graça e outros jogadores como Romeu e Domingos da Guia também em grande forma, a seleção chegou à semifinal, contra a então campeã mundial, a seleção italiana. E foi justamente Domingos o grande vilão da eliminação, junto com o italiano Silvio Piola, que o provocou a ponto de sofrer um pênalti besta fora do lance. Fazer esse tipo de besteira passou a ser, no jargão futebolístico, uma domingada. O Brasil ainda reagiria, mas terminou derrotado por 2 a 1 e tendo que contentar-se com um terceiro lugar.

Domingos da Guia, quando jogava no Boca Juniors

Silvio Piola




1950 - Uruguai

O Maracanazo, em um dia em que todo brasileiro conhece pelo menos duas pessoas que estiveram no estádio (o que faria o já enorme público de 181.000 pessoas crescer umas 100 vezes, se fosse verdade). Na verdade não era uma final, mas o último jogo de um quadrangular final, no qual, por coincidência, os dois times poderiam ser campeões. Um empate bastava ao Brasil que, no salto alto por culpa de seu treinador, em grande parte, esqueceu de jogar contra a boa seleção Uruguaia, de Varela, Schiaffino e Ghiggia, o grande vilão, que marcou o segundo gol. Muita gente elegeu o goleiro Barbosa como culpado, mas o blogueiro prefere ficar com Flavio Costa e, do outro lado, obviamente, o autor do gol da derrota, Alcides Ghiggia. Abaixo, Flavio Costa e Ghiggia (que ainda está vivo), respectivamente.

















1954 - Hungria

Em 1954, o Brasil tinha uma boa seleção que, no entanto, era bastante insegura. Depois de passar sem grandes problemas da primeira fase, com um empate e uma vitória, encontrou a fortíssima Hungria, invicta havia inúmeros jogos, com bailes recentes sobre Inglaterra, Alemanha e Áustria e dona do ataque mais letal da história das Copas. Tínhamos um trunfo: o maior craque da época, Ferenc Puskás, havia se contundido e não jogaria. Ao contrário de suas partidas na primeira fase, a Hungria suou para ganhar do Brasil no futebol (por 4 a 2) e na porrada: uma briga campal aconteceu, com a expulsão de Nilton Santos e outros três jogadores. O jogo, não à toa, foi chamado de Batalha de Berna. O atacante húngaro Sandor Kocsis, para muitos um dos melhores cabeceadores da história, foi o grande nome do jogo e, ao lado da insegurança, o grande responsável pela eliminação da primeira seleção a jogar de amarelo (até 1950, o Brasil jogava de branco, abandonado pelo trauma do Maracanazo).

Sandor Kocsis

1966 - Hungria e Portugal

Em 1966, na Copa disputada na Inglaterra, o Brasil vinha de um bicampeonato mundial consecutivo (o último país a conseguir isso, por sinal) e estava bastante confiante. Tão confiante que a CBD (antecessora da CBF e na época dirigida por João Havelange) promoveu uma zona, com convocação de homônimo do jogador que realmente deveria ser convocado, montagem de várias seleções, nenhuma delas com todos os melhores nomes e parco conhecimento dos bons rivais que eram Hungria e Portugal.

Depois de vencer a Bulgária na primeira partida, o Brasil tomou de 3 a 1 tanto dos magiares quanto dos portugueses. Contra a Hungria, a seleção foi dominada facilmente, com grande participação de Florian Albert, que seria o melhor jogador da Europa no ano seguinte. Contra Portugal, um revezamento dos defensores para fazer faltas em Pelé foi a pá de cal para uma seleção desorganizada e desmotivada. Sim, o recém falecido Eusébio também ajudou.

Essa foi a única eliminação do Brasil em uma fase de grupos inicial em Copa do Mundo desde 1930. Por isso, vão as fotos de três vilões escolhidos: João Havelange, Florian Albert e Eusébio.



João Havelange
Florian Albert
Eusebio

Na próxima postagem, falaremos sobre as eliminações em 1974, 1978, 1982 e 1986. Abraços e um feliz ano novo a todos os leitores.