quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O Brasil nas Copas: vilões nacionais e estrangeiros - parte 4

2006 - França


E, como em três das últimas cinco eliminações, o Brasil caiu para a França. Ao contrário da imprensa e da maioria dos meus amigos, não entrei no oba-oba instaurado para a Copa. O Brasil tinha um bom time, mas Adriano e Ronaldo já haviam entrado em derrocada de suas carreiras, Ronaldinho chegaria esgotado e Kaká ainda não tinha o necessário para levar o time nas costas. Robinho era um bom reserva (e só isso), Roberto Carlos e Cafú só tinham idade pra jogar como laterais em campeonatos fracos (vinham de más  temporadas por Real Madrid e Milan) e outros times muito bons, como Itália, França e Alemanha, que viriam a ser os três primeiros ao final, nem eram muito cotados, dentro da soberba tupiniquim.

O Brasil venceu com alguma dificuldade seus jogos antes de enfrentar a França, que vinha de uma péssima primeira fase, redimida por uma bela vitória sobre a Espanha, que jogava um futebol que prenunciava o time que ganhou todas as grandes competições desde aquela Copa (Copa das Confederações não é grande competição, apesar de ter sido bem legal ver o estilo chatíssimo da Espanha ser mal-sucedido nela duas vezes seguidas). Zidane estava em seu canto do cisne, com aposentadoria anunciada para logo depois da competição. E contra o Brasil, como já fora contra a Espanha e seria contra Portugal, o carequinha pied noir foi perfeito. Não fez dois gols como em 1998, mas orquestrou o meio-de-campo francês, deu a assistência para Henry na polêmica jogada do gol da França, quando Roberto Carlos arrumava o meião perto do atacante francês, chapelou Ronaldo, fez o Diabo.

Para muita gente a eliminação veio como um choque. Para mim, foi normal, só um pouco mais triste por ter sido contra a odiada seleção francesa, que, diga-se de passagem, derrotava o Brasil pela terceira vez seguida em jogos oficiais. A culpa da eliminação foi mais de Zidane do que de qualquer brasileiro. Parreira entrou no oba-oba, mas era realmente difícil isso não acontecer. Então, fiquemos apenas com Zidane. Sim, Roberto Carlos, sua barra foi livrada mais uma vez, como em 1998.

Sim, ele de novo

2010 - Holanda

Mais uma Copa na qual o Brasil era favorito, mas havia um porém: a imprensa estava contra Dunga, péssimo no trato com o Quarto Poder. As convocações de jogadores apenas razoáveis como Grafite, Michel Bastos (lembra dele?), Gilberto (além de razoável, velho para um lateral) e Julio Batista, enquanto Ganso e Neymar comiam a bola no Santos e Ronaldinho ainda seria útil, só agravaram os conflitos, que tiveram como ponto alto o treinador, claramente destemperado, chamando Alex Escobar, do Sportv, de cagalhão.

Outro destemperado, aliás, era o bem razoável segundo volante Felipe Melo, que seria um grande lutador de MMA, caso optasse por outro esporte. Seu "duelo" com Pepe, no último jogo da primeira fase, contra os quinas, foi inesquecível pra quem curte um futebol porrada. De resto, o Brasil sofreu muito pra vencer a ridiculamente fraca Coreia do Norte e fez uma boa partida contra a Costa do Marfim, liderado por Luis Fabiano e Elano, sendo que o último se contundiu e ficou fora do restante do Campeonato. Um time que tem Luis Fabiano e Elano como destaques, como o leitor sabe, está fodido e mal pago, mas ainda teríamos algumas ilusões após a batalha campal contra Portugal e uma vitória fácil sobre o ultra-ofensivo Chile, velho freguês.

A adversária nas quartas-de-final seria a Holanda, um time mais ou menos do nível do Brasileiro (pior na defesa, mas melhor no meio. Ataques mais ou menos equivalentes). E o jogo começou bem para o Brasil, com um baita lançamento de Felipe Melo para Robinho abrir o marcador. O Brasil foi MUITO melhor que a Holanda no primeiro tempo, mas aí...

Aí, no começo do segundo tempo, numa bola cruzada por Sneijder (na minha opinião o melhor jogador da temporada europeia em 2009-10, diga-se) Júlio César, companheiro do pequeno holandês na Internazionale saiu de forma grotesca, se chocando com Felipe Melo e deixando a bola passar. O Brasil foi dominado, como dominara no primeiro tempo e, pouco antes do meio da segunda etapa, cometeu a proeza de tomar um gol de cabeça do mesmo Sneijder, que não é bom cabeceador e mede apenas 1,70 metro. Foi o primeiro gol de cabeça do jogador de 26 anos em sua carreira, para se ter uma ideia do bizarro. Nesse momento, Dunga olha para o banco e vê Grafite, Nilmar, Julio Baptista. Ou seja, chance zero de conseguir mudar a história do jogo. Felipe Melo, em mais um momento de sinalização de dificuldades reais de convívio em sociedade, deu um carrinho criminoso em Robben e deixou a seleção com um a menos, como cereja no bolo. Sneijder teve méritos, é claro, e deve constar do post, mas o festival de asneiras cometido por Dunga (que taticamente era até razoável) em sua convocação o credencia como o maior vilão da Copa de 2010, vinte anos após ser injustiçado em 1990. Afinal, quem convocou Felipe Melo, Gilberto, Michel Bastos, Julio Baptista e Nilmar foi ele. Muito provavelmente por birra com a imprensa.

Dunga, com alguma roupa ridícula desenhada por sua rebenta

Wesley Sneijder

Assim termina a série de postagens sobre o Brasil. No próximo, começarei a falar dos outros 31 países na Copa, sendo a primeira nação a Croácia. Até lá!

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