sábado, 25 de janeiro de 2014

O Brasil nas Copas: vilões nacionais e estrangeiros - parte 3

Nesta última parte dos posts sobre as derrotas brasileiras em Copas do Mundo, irei analisar as eliminações de 90 e 98. De alguma forma, eu me lembro de ambas, além das de 2006 e 2010, guardadas para o último post, o que facilitará muito meu serviço.



1990 - Argentina

Poucas vezes o Brasil foi a uma competição tão desacreditado quanto em 1990. Haviam bons jogadores, como os Ricardos (Gomes e Rocha) na defesa, Careca, Bebeto, Renato e Romário no ataque (desses, apenas Careca seria titular, ao lado de Müller), além dos laterais Jorginho e Branco. O time fez uma primeira fase protocolar, batendo Escócia, Costa Rica e Suécia por placares magros. Nas oitavas de final, entretanto, pegaria a campeã do mundo Argentina, que, mesmo com Maradona em grande forma, havia penado nos primeiros rounds.

O Brasil surpreendeu a todos, jogando sua melhor partida no mundial, mas perdendo muitos gols, especialmente com Müller. O atacante mais fraco do elenco ser titular foi apenas uma de inúmeras cagadas de Lazaroni, provavelmente o técnico mais medíocre que já vi na seleção. Ainda assim, a Argentina parecia acuada e o gol da vitória poderia sair a qualquer momento. Mas eles tinham Diego Armando Maradona, melhor do mundo à época e também o melhor que esse blogueiro viu jogar. Em um lance genial, Dieguito passou por 5 jogadores brasileiros, que não tentaram sequer fazer uma falta (Alemão, seu companheiro de Napoli, foi o mais medroso dos cinco) e, quando parecia que finalmente Ricardo Gomes tiraria-lhe a bola, passou com perfeição para o paquito Caniggia, que se livrou de Taffarel e eliminou o Brasil.

As razões da eliminação foram a falta de tato da CBF, especialmente quanto a premiações e escolha do (péssimo) treinador e, também, o fato de a Argentina ter o então melhor do mundo ao seu lado. Muita gente fala da água batizada dada a Branco pelo banco argentino, mas isso não passa de desculpinha. Fico, pois, com Lazaroni, por ser um péssimo gestor e escalador e Maradona, por, em um lance, ter sido Maradona.

Lazaroni

Maradona


1998 - França

O time do Brasil na Copa de 1998 era, no papel, o melhor que eu já havia visto jogar. Mesmo os zagueiros, o estabanado Junior Baiano e o já veterano Aldair, tinham suas qualidades. Os dois melhores jogadores do mundo em 1997, Ronaldo e Roberto Carlos, atuavam bem também pela seleção. Dunga era um excelente líder dentro de campo e tinha a companhia do grande Cesar Sampaio na volância. Cafú era o lateral direito e Rivaldo e Leonardo os meias. Por fim, Bebeto, que não jogava lá um grande futebol em clubes havia tempos, ainda atuava muito bem pela seleção. E tinha Edmundo na reserva.

É bem verdade que, pouco antes da competição, tivemos o corte de Romário, que fora o grande responsável pela vitória em 1994 e ainda tinha muita lenha para queimar, especialmente ao lado do fenômeno, então pesando surpreendentes 75 kilos. Seu corte, quando era possível mantê-lo no grupo, foi a primeira de várias besteiras feitas por Zagallo e o pé de iceberg Zico, seu assistente técnico. Mas o time continuava bom e, especialmente depois de um chocolate no razoável time de Marrocos, parecíamos bem encaminhados.

Parecíamos. Na terceira partida da primeira fase, no dia da morte do cantor sertanejo Leandro, o Brasil, já classificado, enfrentaria a Noruega, que precisava ganhar e havia aplicado uma goleada na seleção canarinho pouco mais de um ano antes. O jogo foi surpreendentemente bom e já na segunda metade do segundo tempo, Denílson (naquela que foi provavelmente sua atuação mais objetiva na seleção), cruzou bem para Bebeto fazer um a zero. Aí começou o show de Junior Baiano, muito aplaudido por Tore Andre Flo,  atacante norueguês que marcou o primeiro gol e sofreu o pênalti do segundo tento dos nórdicos. O Brasil passara em primeiro para as oitavas, mas perdera um jogo: importante notar que o Brasil nunca venceu uma Copa tendo perdido alguma partida.

O jogo das oitavas voltou a trazer muitas esperanças. Contra um dos melhores ataques do mundo, o do Chile (no Winning Eleven 3 era O MELHOR) a defesa Brasileira jogou bem e com dois gols de Ronaldo e dois do grande Sampaio, o Brasil venceu por 4-1. Ainda por cima, fugiu da asa-negra nigeriana, que também tomou de 4 a 1, só que da Dinamarca. O time dinamarquês não era fantástico, mas tinha um gênio no meio de campo (Michael Laudrup), bons atacantes (Brian Laudrup, Jorgenssen e Sand) e um goleiro fantástico (Schmeichel). Em um jogo no qual Roberto Carlos teve uma das piores atuações que eu já vi em um jogador de alto nível, Rivaldo salvou a seleção, marcando dois gols e jogando o fino. Os dinamarqueses caíram de cabeça erguida e, agora, a amarelinha enfretaria a seleção que jogava o melhor futebol da Copa, a Holanda.

Depois de uma primeira fase apenas razoável, a Holanda venceu um partidaço contra a Iugoslávia e outro contra a Argentina - com direito a uma pintura de Bergkamp - e era, fácil, o time que mais metia medo na torcida brasileira entre os ainda vivos (havia também França e Croácia). Para piorar, Cafú, um oásis de regularidade numa seleção muito inconstante, estava suspenso e em seu lugar jogaria aquele que era provavelmente o pior dos 22 jogadores convocados: Zé Carlos. Em uma partida muito boa e cheia de alternativas, o Brasil acabou por vencer nos pênaltis, com Taffarel pegando duas cobranças batavas. A final seria contra os donos da casa, que haviam suado muito para passar por Paraguai, Itália e Croácia, seleções piores que as adversárias dos brasileiros.

Pouco antes da final, entretanto, Ronaldo teve um ataque epilético ou coisa que o valha, convulsionou e deixou todo mundo na concentração em polvorosa: poderíamos perder para sempre um dos melhores da história. A notícia logo chegou à imprensa, acompanhada da escalação de Edmundo - na melhor temporada de sua carreira - ao lado de Bebeto no ataque. Pouco antes da partida, Zagallo voltou atrás e escalou o baleado Ronaldo, melhor jogador do time, e, principalmente, um dos maiores contratados da Nike, patrocinadora da seleção. O resultado, todos sabemos: um baile da França, que venceu por 3 a 0 mesmo tendo um ataque ridículo, formado por Guivarc'h e Dugarry, e levou o título. Zidane marcou duas vezes de cabeça (algo não muito comum em sua gloriosa carreira) e Petit botou a última pá de terra no túmulo brasileiro. Túmulo esse cavado por Zagallo e Zico, dois únicos seres humanos que aparecem pelo lado brasileiro duas vezes nesta humilde lista. Zidane ainda aparecerá mais uma vez, mas duvido muito que ele seja humano.

Zinedine Zidane
Zagallo, em 1974  

Zico, ainda como jogador


Nenhum comentário: