domingo, 12 de janeiro de 2014

O Brasil nas Copas: vilões nacionais e estrangeiros - parte 2

Olá, pessoal! Na postagem de hoje, falarei um pouco sobre um período complicado para o futebol brasileiro, internacionalmente falando: as décadas de 1970 e 1980. Nas Copas disputadas nessa época, o Brasil sempre levou bons times (um, o de 1982, excelente) às competições, mas perdeu para outros ainda melhores ou em não soube se encontrar quando enfrentou situações adversas. Vamos, pois, às Copas de 1974, 1978, 1982 e 1986.


1974 - Holanda

Em 1974, o Brasil foi à Copa como favorito, favoritismo este baseado no fato de ter sagrado-se tricampeão mundial na Copa do México, em 1970, com um time que era, certamente, um dos melhores de todos os tempos. Em 1974, entretanto, a história seria bem diferente.

Começava uma era na qual o preparo físico passava a fazer mais diferença no futebol mundial. Jogadores que jogavam em várias posições passaram a ser considerados essenciais, muito úteis a qualquer selecionado. Para completar, Pelé, um precursor da excelência física no futebol, resolveu não ir à Alemanha Ocidental disputar o Mundial. Ainda assim, o Brasil tinha uma boa equipe, com vários remanescentes de 1970, casos de Jairzinho, Rivelino e Leão, este último substituindo com extrema competência o inseguro Félix e tornando-se um dos maiores goleiros brasileiros de todos os tempos, mesmo sem título mundial como titular.

Após uma primeira fase medíocre, na qual empatou contra Iugoslávia e Escócia e bateu o Zaire (atual República Democrática do Congo), o Brasil caiu em um grupo complicado na segunda fase de grupos, com Argentina, Alemanha Oriental e Holanda. Os holandeses eram a sensação da Copa, com um time baseado no Ajax tricampeão europeu entre 1971 e 1973 e no qual vários jogadores jogavam com competência em várias posições do campo. Após vitórias magras e de grande responsabilidade de Rivelino contra argentinos e alemães orientais, o Brasil foi pegar a Holanda em Dortmund precisando da vitória. Pouco antes da partida, Zagallo, treinador da seleção fez piada com os holandeses, dizendo que o Brasil faria um suco da laranja mecânica.

Não foi bem assim. Em uma partida extremamente violenta, na qual o bom zagueiro palmeirense Luis Pereira fez uma das faltas mais absurdas da história das Copas sobre Johann Neeskens, a Holanda venceu por 2 a 0 com gols do próprio Neeskens e de seu grande craque, Johann Cruyff, jogador polivalente e que parecia ter o dom da ubiquidade. O velho lobo, então apenas um quarentão, teve que engolir os holandeses e seu futebol total. Depois, na disputa do terceiro lugar, o Brasil perderia também para a boa equipe da Polônia, comandada por Deyna, Lato e Szarmach.

Abaixo, fotos de Cruyff, Zagallo e Lato.

Johann Cruyff
Mario Jorge Lobo Zagallo
Grzegorz Lato 


1978 - Argentina

Em 1978, a Copa voltava à América do Sul pela primeira vez após longos 16 anos e seria disputada na então especialmente conturbada Argentina, que sofria com uma brutalíssima ditadura. A seleção brasileira tinha em Rivelino seu único remanescente do time titular de 1970 e alguns jovens craques, casos de Cerezo, Zico e Roberto Dinamite; assim como em 1974, fez uma primeira fase apenas razoável, empatando com Espanha e Suécia e derrotando a Áustria.

Na segunda fase, o time deslanchou, batendo com segurança o Peru e a Polônia e empatando uma partida duríssima com a dona da casa, na cidade de Rosário, em peleja entre as duas anteriormente citadas. Na última rodada, entretanto, a Argentina jogou depois do Brasil, contra o Peru, sabendo que precisaria vencer por 4 gols de diferença para ir à final. Venceu por seis gols, em uma partida pra lá de suspeita, na qual a pressão para uma vitória argentina por parte dos militares portenhos era enorme. Para se ter uma ideia, o goleiro peruano, Ramón Quiroga, nasceu na Argentina e teve péssima atuação. Seria a primeira Copa na qual a seleção não perderia nenhum jogo e não levaria o título.




1982 - Itália

Em uma das Copas com maior nível técnico de todos os tempos, o Brasil, comandado por Telê Santana, era favorito. Disputada sob o forte calor espanhol, a competição contava com timaços de Brasil, França, Polônia, URSS, Alemanha Ocidental e outros bons times, casos de Bélgica, Argentina e Inglaterra. Só para falar do Brasil, a seleção tinha gente do quilate de Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo, Júnior e Oscar na ponta dos cascos. Careca foi cortado faltando pouco para o início do certame, mas foi substituído por Serginho, maior artilheiro da história do São Paulo.

Na primeira fase, o Brasil bateu a URSS em jogo duríssimo, depois goleou a Escócia e a Nova Zelândia. Pouca gente temeu o grupo das quartas de final, com Argentina e Itália, o que foi corroborado pelo chocolate de 3 a 1 aplicado nos hermanos, com direito a expulsão de Maradona, estreando em Copas e já um dos melhores do mundo à época.

A Itália vinha numa campanha cambaleante, com três empates na primeira fase (em um grupo duríssimo, diga-se de passagem, com Polônia, Camarões - primeira grande seleção africana em uma Copa - e o decadente, mas ainda razoável Peru). Conseguira vencer a Argentina em um belo jogo, mas pouca gente apostaria que a azzura poderia derrotar o Brasil.

Em um dos melhores jogos da história das Copas, o Brasil foi vítima de seu grande ímpeto ofensivo. E também de um atacante desacreditado chamado Paolo Rossi. Suspenso por dois anos do futebol por envolvimento em um dos primeiros escândalos futebolísticos ligado a loterias na Itália (e eles são bem comuns), Rossi voltou pouco antes da Copa. Apesar de ter feito uma boa Copa em 1978, poucos acreditavam nele. Pois o nativo de Arezzo marcou os três gols da Itália na vitória por 3 a 2 - um empate classificaria o Brasil para a semifinal - em uma grande performance. Em um dos gols, Cerezo fez um passe perigoso que caiu nos pés do atacante italiano, mas eleger o volante como vilão seria um exagero. O grande vilão foi mesmo Rossi.



1986 - França

A seleção de 1986 era basicamente a de 1982, quatro anos mais velha e com alguns enxertos, dos quais o único que trouxe real melhora foi Careca, um centroavante com mais recursos que o bom Serginho. O Brasil fez uma primeira fase competente, com três vitórias contra times bem razoáveis, a Espanha, a Irlanda do Norte e a Argélia.

Nas oitavas de final, os comandados de Telê acabaram com o bom time polonês, numa goleada impiedosa por 4 a 0, com grande atuação do lateral-direito Josimar, que só havia sido convocado devido ao corte de Leandro Favela, por indisciplina.

As quartas de final seriam contra o outro time de futebol ofensivo e extremamente plástico da Copa anterior: a França de Michel Platini. Os franceses vieram para a Copa com a confiança em alta, pois eram campeões europeus e tinham em Platini um craque, em um nível no qual apenas Zico e Sócrates, naquele time brasileiro, já haviam chegado um dia - ambos não estavam em bons momentos e tinham problemas físicos em 1986.

No estádio Jalisco, segundo maior daquela segunda Copa do México (e que trazia ótimas recordações de 1970 aos brasileiros), o Brasil surpreendeu muita gente dominando os franceses e marcando o primeiro gol com Careca, em uma jogada extremamente bem trabalhada. Platini conseguiu empatar algum tempo depois, mas as melhores chances foram do Brasil, que contava com uma atuação fenomenal do lateral-esquerdo Branco. O gaúcho de Bagé sofreu pênalti no final do segundo tempo, após aproveitar bom lançamento de Zico, que acabara de entrar no jogo. O Galinho de Quintino, provavelmente o maior craque brasileiro a não ter vencido uma Copa do Mundo, telegrafou a cobrança, facilmente defendida pelo ágil Joël Bats. O goleiro francês se consagraria de vez na disputa de pênaltis, defendendo a cobrança do Doutor  Sócrates. Platini, que completava 31 anos no dia da partida, também perdeu sua cobrança, mas isso não fez diferença pois Júlio César chutaria um foguete na trave e a cobrança de Amoros entraria, após a bola bater na trave e nas costas do goleiro Carlos. Talvez seja a eliminação mais complicada de eleger um vilão, entre todas do Brasil em Copas. Platini jogou muito, Zico e Sócrates foram muito displicentes em suas cobranças perdidas, Bats soube aproveitar-se disso. Fiquemos com Zico, que assumiu uma responsabilidade enorme para ser displicente, sendo que o próprio Branco poderia bater o pênalti.

Zico

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