sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Singela homenagem a Nelson Mandela

A postagem de hoje será diferente. Ao invés de falar sobre curiosidades ou esportes de alguma nação, falarei sobre um homem de todas as nações, um dos maiores do século XX, Nelson Rolihlahla Mandela, que faleceu ontem aos 95 anos em sua natal e querida África do Sul. A morte já era esperada há algum tempo, houve bastante boatos, especialmente neste ano, mas mesmo assim fiquei triste, com um nó na garganta, como não ficava pela morte de uma pessoa pessoalmente desconhecida desde a morte de Ayrton Senna, em 1994.


Evitarei usar a Wikipedia para compor a postagem, pois no último ano li muito sobre a África do Sul no século XX e, por consequência, li muito também sobre o Madiba, como era chamado carinhosamente, remetendo a seu nome tribal.

Mandela nasceu na região do Cabo Oriental, no Centro-Leste da África do Sul, em 18 de julho de 1918 no seio de uma família nobre da etnia thembu, umas das diversas que compõem o arco-íris sul-africano e, diga-se de passagem, dificilmente considerada uma das três ou quatro principais. Teve uma educação excelente, especialmente levando-se em conta que, naqueles pequenos anos de quasi Independência de seu país, os negros, que já sofriam sérias restrições sob os britânicos, passaram a ser ainda mais oprimidos. Estudou Direito, expressava-se muito bem em vários idiomas de seu país (inclusive o africaner, dialeto do holandês usado pelos brancos e mulatos claros de origem europeia continental - curiosamente, a maioria NÃO era de holandeses, mas de belgas, franceses huguenotes e alemães renanos).

Eram tempos difíceis e, mesmo educado e não tão jovem, Mandela, filiado ao Partido Nacional Africano, passou a se rebelar contra a dominação e, mais especialmente, a opressão branca em seu país. Longe de ser um santo, Mandela adotou estratégias bem parecidas às hoje usada pelos black blocks e, no inicio dos anos 1960, acabou preso pelo Governo do Apartheid.






Ficou preso durante 30 anos na Ilha Robben, a poucos quilômetros da costa da Cidade do Cabo. De um violento ódio contra os brancos, passou a adotar uma postura de mais tolerância. Organizava campeonatos de rugby e futebol entre os detentos, fazia gracinhas com os  carcereiros de quem ficara mais íntimo, pensava muito no poema vitoriano Invictus. Muita gente no mundo inteiro, tão variada quanto Fidel Castro, Muammar Gadaffi, Jimmy Carter, Helmut Kohl e a Rainha Beatrix, da Holanda, fizeram pedidos por sua libertação durante esse período.

O homem que decidiu, finalmente, libertar Mandela, foi Frederick de Clerk, o último líder do Partido Nacionalista, que perpetrava o apartheid na África do Sul. Dono de grande habilidade e visão política- e não de compaixão propriamente dita - promoveu as reformas que acabariam com o Apartheid, que ele mesmo sabia ser inviável. Se tornou parceiro importante de Mandela nos anos seguintes, nas eleições de 1994, as primeiras com participação negra em muitos anos, inclusive.

Libertado, Mandela fez um périplo pelo mundo, cujo ponto alto foi Barcelona, durante os Jogos Olímpicos de 1992. Data desse ano minha primeira lembrança de Mandela, que sempre me cativou com seu sorriso, jeito de homem simples e correto. Abaixo, discurso de Mandela falando sobre o papel dos Jogos Olímpicos na reconciliação, em 2000:


Já como presidente, em 1994, passou a trabalhar incansavelmente pela maior integração do povo sul-africano. Usou o esporte como grande instrumento, ao promover a Copa do Mundo de Rugby de 1995, realizada  no país e vencida pelos Springboks, a seleção sul-africana, que então contava apenas com um jogador negro e também a Copa Africana de Nações, igualmente vencida pelos sul-africanos - neste caso, uma seleção com maioria negra. A forma como usou o rugby como fator de integração nacional é explicada no filme Invictus, de Clint Eastwood, cujo trailler segue abaixo (se tiver curiosidade de ver o filme inteiro, as cenas de partidas são muito bem feitas).


Mandela teve dificuldades óbvias durante seu governo, que durou até 1999, para promover a reconciliação entre brancos e negros em um país com um sério problema de  saúde pública (mais ou menos um quinto da população adulta é portadora do vírus HIV), desigual e injusto. Não conseguiu resolver todos os problemas, mesmo contando com ajuda de gente muito boa, como Desmond Tutu, Frederick de Clerck e Thabo Mbeki, que o sucederia como presidente. Não perdeu, entretanto, o respeito e admiração de quase todo sul-africano e de muita gente ao redor do mundo. Cabe ressaltar que sua postura conciliatória também rendeu-lhe inimigos, especialmente da etnia zulu na África do Sul e do movimento supremacista negro no mundo inteiro. Mandela lutou contra a dominação branca, mas também contra a dominação negra.

Na década de 2000, Mandela tornou-se um palestrante de muito sucesso ao redor do mundo e trabalhou pela melhora de seu país. Foi importante para levar a Copa do Mundo de 2010 à África, ainda que sua idade avançada e a morte de uma neta não tenham permitido a ele acompanhar a competição como planejara e gostaria. Sua última aparição pública de mais impacto foi na final do torneio, em julho de 2010.



Fica aqui nossa homenagem a um ser humano que buscou conciliação e não vingança. Que amava seu país, mas também seu continente e seu planeta. E, principalmente, que respeitava não só seu próprio povo, mas todos os povos. Descanse em paz, Madiba, o senhor foi um vencedor.



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